quinta-feira, 13 de setembro de 2007

No Caminho com Maiakovski


Vladimir MaiakovskiNão há muito o que explicar, apenas ler. Gostaria apenas de dizer que, na minha procura por este poema na íntegra, vi uma pessoa que dizia que este era um “poeminha apenas razoável”. Acho que opinião não é verdade absoluta, então, a quem o poema tocar, para este ele será bom. Para quem não sentir nada ao ler, tanto faz.


NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI*
(Eduardo Alves da Costa)

Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakosvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores,
matam nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz: e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo, por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer “mãe” e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas no tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
esconder minha dor diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

* Vladimir Maiakovski foi um poeta russo, considerado um dos principais representantes da vanguarda futurista do início do século XX. Nasceu em 1893 e suicidou-se em 1930.

1 Comentário(s)::

Anônimo disse...

Todos os versos desse poema, enfocam nitidamente como vivemos na sociedade hoje, somos prisioneiros de um regime em que nossa voz, nossos olhos, nossos ouvidos est�o cerrados, nos sentimos impotentes diante de tanta viol�ncia, corrup�o, selvageria. Isto porque permitimos que o medo nos controlem, e deixamos a aliena�o nos dominar.