Justiça justa

Como diz o filsófo francês André Comte-Sponville, Blaise Pascal era um escritor e filósofo de gênio e também um extraordinário pensador político. Mas esta última característica não se conhece tão bem. Tem um pensamento considerado dos mais lúcidos, desiludidos, desesperados quanto à sociedade.

Uma passagem interessante do livro “Pensamentos Sobre a Política”, que apresenta vários fragmentos escritos por Pascal ao longo de sua vida, trata da justiça. Ele diz:

“Durante muito tempo em minha vida acreditei que havia uma justiça; e nisso não me enganava; pois ela existe, aquela que Deus nos quis revelar. Mas não a entendia assim, e é nisso que me enganava; pois eu acreditava que nossa justiça era essencialmente justa e eu tinha como conhecê-la e julgá-la. Mas me deparei tantas vezes em falta de julgamento correto, que por fim passei a desconfiar de mim e dos outros. Vi os países e os homens mudando; e, deste modo, após muitas mudanças de julgamento em relação à verdadeira justiça, compreendi que nossa natureza era apenas uma contínua mudança e, desde então, não mudei mais; e, se mudasse, confirmaria minha opinião”.

Fonte: Pensamentos Sobre a Política