quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Gabriela Mistral

PAÍS DA AUSÊNCIA

É o país da ausência
estranho país,
com leveza de anjos,
contornos sutis,
da cor da alga morta,
da cor indecisa,
com a era de sempre,
sem era feliz.

Romãs não dá nunca,
tampouco jasmins.
Nunca teve céus,
nem mares de anil.
Não sei do seu nome,
de ninguém o ouvi.
No país sem nome
é que vou dormir.

Nem pontes nem barcos
trouxeram-me aqui,
ninguém me falara
do estranho país.
Nem eu o buscava,
nem o descobri.

Nasceu-me de coisas
que não são país:
de pátrias e pátrias
que tive e perdi,
bem como criaturas
que morrerem vi;
do que já foi meu
e se foi de mim.

Perdi cordilheiras
e vales sem fim,
dourados pomares
cheirosos jardins;
perdi também ilhas
de verde e de anil.

As sombras de tudo
a envolver-me vi
e, juntas e amantes,
fazer-se país.

Cabelos de névoa
sem fronte ou cerviz,
hálitos errantes
sempre a me seguir,
ao longo dos anos
virando país.
No pais da ausência
é que vou dormir.

(Tradução: Ribeiro Couto)


Esta é uma poesia de Gabriela Mistral, que faleceu há exatamente 51 anos, em 10 de janeiro de 1957. Poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena, ela foi vencedora do Prêmio Nobel da Literatura em 1945.

2 Comentário(s)::

P. L. F. V. disse...

~ 0 _ 0 ~

Anônimo disse...

Uma grande poetisa!