sábado, 7 de julho de 2012

Jean-Jacques Rousseau - Continuação 3

Finalizando esta espécie de “homenagem” aos 300 anos de nascimento do gênio Jean-Jacques Rousseau, seguem outras passagens de suas obras que considero importantes e que já foram postadas aqui neste blog. Novamente as citações vêm da obra “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens”.

A respeito do início da sociedade civil, Rousseau diz:

“O primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a dizer: ‘Isto é meu’, e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: ‘Evitai ouvir este impostor. Estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não é de ninguém!’. Porém, ao que tudo indica, então as coisas já haviam chegado ao ponto de não mais poder permanecer como eram, pois essa ideia de propriedade, dependente de muitas ideias anteriores que só puderam nascer sucessivamente, não se formou de uma só vez no espírito humano. Foi necessário fazer-se muitos progressos, adquirir-se muito engenho e luzes, transmiti-los e aumentá-los de século em século, antes de se chegar a esse derradeiro limite do estado de natureza.”

Por fim, seus comentários sobre a disputa entre um “punhado de poderosos e ricos”, de um lado, e uma “multidão de miseráveis”, do outro:

“...assinalaria como esse desejo universal de reputação, de honrarias e de preferências, que nos devora a todos, exercita e compara os talentos e as forças, excita e multiplica as paixões e, como tornando todos os homens concorrentes, rivais, ou melhor, inimigos, causa todos os dias reveses, sucessos e catástrofes de toda espécie, ao fazer com que tantos pretendentes corram na mesma liça. Mostraria que é a essa ânsia de fazer falar de si, a essa gana de distinguir-se que nos mantém quase sempre fora de nós mesmos que devemos o que há de melhor e de pior entre os homens, nossas virtudes e nossos vícios, nossas ciências e nossos erros, nosso conquistadores e nossos filósofos, ou seja, uma grande quantidade de coisas más contra um pequeno número de boas. Provaria enfim que, se vemos um punhado de poderosos e de ricos no topo das grandezas e da fortuna, enquanto a multidão rasteja na obscuridade e na miséria, é porque os primeiros só estimam as coisas que desfrutam na medida em que os outros dela estão privados, e porque, sem mudar de estado, deixariam de ser felizes se o povo deixasse de ser miserável”.