A melhor solução para a mediocridade
Eis a melhor solução encontrada pela CBAt para acabar com as derrotas de corredores brasileiros para os quenianos na Corrida de São Silvestre e outras provas similares: limitar a participaçao de estrangeiros. É verdade... A “invasão” queniana nas corridas de rua de todo o Brasil pode estar com os dias contados. Atendendo a reclamações de atletas, a Confederação Brasileira de Atletismo deve aprovar, na primeira Assembléia Geral de 2009, em janeiro, restrições para a participação de estrangeiros nas provas do país.
A questão refere-se, basicamente, aos corredores do Quênia. O país africano é, para as provas de fundo, assim como o Brasil é para o futebol. Revela muitos talentos que não encontram no próprio país a possibilidade de altos ganhos financeiros e vão competir no exterior. Com um movimentado circuito de corridas de rua no Brasil, há provas com premiação em dinheiro praticamente a cada fim de semana. E é justamente esse o problema apontado pelos atletas brasileiros: eles estão perdendo sua principal fonte de renda.
“Os corredores brasileiros reclamam que não têm conseguido ganhar os prêmios e muitos contam somente com esses recursos para manterem seus treinos”, afirma Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da CBAt. “A presença dos quenianos ainda não tem causado impacto ao atletismo brasileiro. Grande parte dos que competem aqui não tem resultados técnicos fantásticos. Mas eles tiram prêmios dos brasileiros e isto pode ser um desestímulo aos nossos corredores”. (Se eles não têm “resultados fantásticos”, imagina os resultados dos brasileiros...)
Para Henrique Viana, técnico de vários fundistas, incluindo Franck Caldeira, é questão de tempo para que esse impacto seja sentido. “Onde estão os corredores da Itália, de Portugal, do México?”, questiona. “Esses países não formam mais bons atletas porque lá ocorreu, já há algum tempo, o que ocorre agora no Brasil. Só quenianos ganham as provas. Os prêmios estão caindo, porque patrocinadores e torcedores estão perdendo o interesse.”
De acordo com a CBAt, países europeus já restringem a participação estrangeira. Tanto a CBAt quanto técnicos e atletas brasileiros querem afastar a hipótese de um discurso xenófobo (tem certeza?). A presença de corredores estrangeiros de bom nível técnico é importante, afirmam. Basta lembrar as emocionantes participações do ex-recordista mundial da maratona Paul Tergat nas corridas de São Silvestre. Mas, para a entidade que rege o atletismo nacional, o comportamento de alguns técnicos e agentes causou o conflito de interesses.
“É importante ressaltar que muitos quenianos vêm ao Brasil para permanecer um período, treinando com técnicos brasileiros, que acabam ganhando parte nos prêmios”, diz Martinho Nobre dos Santos. “Este tipo de comportamento está desvirtuando a participação eventual ou a convite de organizadores de corridas, o que é normal”, comenta o dirigente. (Então não convidem mais ninguém e tornem esta uma corrida apenas para brasileiros logo...)
A CBAt informa que só aceita atletas registrados na federação de origem e mantém uma lista de corredores estrangeiros habilitados a competir no País. Hoje são 45, sendo 41 deles quenianos. “Quando começarem a exigir seriedade, saber qual o modo de viver desses atletas e como os técnicos trabalham, haverá uma diminuição de quenianos no Brasil”, garante o treinador Moacir Marconi, precursor no intercâmbio entre técnicos brasileiros e corredores quenianos. Ele diz ter registro na Federação Queniana e é contato, no Brasil, de um dos principais agentes de corredores daquele país, o italiano Federico Rosa.
Outras duas equipes trabalham com quenianos. Os ex-corredores Luiz Antonio dos Santos e Jorge Luís da Silva estão com um grupo em Campos do Jordão (SP) - a reportagem tentou entrevistá-los, mas eles não quiseram dar declarações até que a norma da CBAt entre em vigor. Albenis Souza, o primeiro técnico de Marilson Gomes dos Santos, trabalha com outra equipe em Brasília.
Acho quer seria bom pensarem em limitar a participação de jogadores brasileiros de futebol em todos os países do mundo também. Mais uma demonstração da boa e velha mania brasileira de “cortar o mal” podando a árvore, e não cortando a raiz.
Referência: Gazeta do Povo