quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Alexander Selkirk, o “verdadeiro” Robinson Crusoe

No dia 2 de fevereiro de 1709, há exatos 303 anos, o marinheiro escocês Alexander Selkirk foi resgatado após passar quatro anos como náufrago, após ser abandonado numa ilha deserta. Supõe-se que suas aventuras tenham inspirado Daniel Defoe a escrever o clássico da literatura “Robinson Crusoe”.

Em 1703 Selkirk juntou-se à expedição do corsário e explorador William Dampier. Enquanto este capitaneava o navio St. George, Selkirk serviu na galé Cinque Ports, que acompanhava o St. George, como mestre de navegação, sob o comando de Thomas Stradling. No ano seguinte as embarcações se separaram devido a uma desentendimento entre Stradling e Dampier e o Cinque Ports dirigiu-se à ilha Más a Tierra (atualmente conhecida como Ilha Robinson Crusoe), no arquipélago desabitado de Juan Fernández, ao largo da costa do Chile, para renovar suas provisões e estoque de água. O local, alvo de uma tentativa mal-sucedida de colonização pelos espanhóis, encontrava-se então abandonado, servindo como ponto de parada frequente para marinheiros britânicos.

SelkirkNeste ponto, Selkirk tinha graves preocupações quanto à capacidade de navegação da embarcação, cuja estrutura mostrou não se adaptar bem ao clima tropical. Contando com a passagem iminente do St. George, ele disse a Stradling que preferia ficar em Más a Tierra a afundar com o Cinque Ports, tentando convencer alguns dos seus colegas a desertar e permanecer na ilha. Ninguém concordou, mas o capitão declarou que lhe concederia aquele desejo, abandonando-o sozinho no local. Selkirk imediatamente arrependeu-se da decisão, mas não havia como voltar atrás. Como fora abandonado, e não expulso, pôde permanecer com seus pertences: um mosquete, pólvora, ferramentas variadas, uma faca, uma Bíblia, algumas peças de roupa e uma corda. Ele passaria os quatro anos e quatro meses seguintes privado de qualquer companhia humana. O Cinque Ports acabou naufragando em alto-mar, vitimando a maioria de seus marujos.

Selkirk permaneceu, a princípio, na parte costeira da ilha. Durante este período ele comia frutos do mar e vasculhava o oceano diariamente por sinais de resgate. Hordas de ruidosos leões-marinhos, reunindo-se na praia para a temporada de acasalamento, finalmente o obrigaram a explorar o interior da ilha. Lá sua vida melhorou, pois havia mais alimentos disponíveis, como cabras selvagens, que podiam fornecer-lhe carne e leite. Selkirk provou ser engenhoso em utilizar o equipamento que trouxera, assim como materiais disponíveis na ilha. Ele construíu, próximo a uma fonte de água, duas cabanas, utilizou seu mosquete para caçar cabras e a faca para limpar suas carcaças. Quando a munição ficou escassa, passou a caçar suas presas a pé. Ele lia a Bíblia com frequência, buscando nela conforto para sua condição e prática para seu inglês. As lições que aprendera no curtume de seu pai durante a infância foram de grande ajuda durante a estadia na ilha. Quando suas roupas puíram, ele produziu novos trajes com a pele das cabras. Quanto aos instrumentos, ele conseguiu ao menos forjar uma nova faca a partir dos anéis dos barris abandonados na praia.

Resgate de Selkirk
Nesse ínterim, duas embarcações espanholas ancoraram na ilha, mas, na condição de corsário e escocês, Selkirk corria grande risco caso fosse capturado. Somente em 2 de fevereiro de 1709, por meio do navio Duke, capitaneado justamente por William Dampier, Selkirk foi descoberto pelo capitão Woodes Rogers. Ele caçou animais e ajudou a restaurar a saúde dos homens de Rogers, abalada pelo escorbuto, e o capitão concedeu-lhe o comando independente de um de seus navios. Um livro de autoria de Rogers, “A Cruising Voyage Round the World: First to the South-Sea, Thence to the East-Indies, and Homewards by the Cape of Good Hope”, publicado em 1712, incluía um relato sobre o suplício de Selkirk. Na mesma época ele foi entrevistado por Richard Steele e o artigo sobre suas aventuras, publicado no “The Englishman”, foi um sucesso entre os leitores.

Um dos muitos leitores do livro do capitão Rogers foi o escritor Daniel Defoe e a história das desventuras de Selkirk exerceu profunda influência na caracterização da personagem-título de sua obra-prima “Robinson Crusoe”. Uma das semelhanças mais evidentes é a vestimenta de pele de cabra de seu náufrago. Apesar de, no contexto do livro, parecer absurda e desnecessária, levando-se em conta que a ilha paradisíaca foi transposta por Defoe do Pacífico para o Atlântico, com seu clima temperado e muito mais quente, esta permanece como uma das características mais marcantes da personagem.

Referência: Wikipedia